domingo, 1 de julho de 2012

CLAUDIA ALENCAR (ARTISTA)

A coluna ARTISTA do site MUNDO NOVELAS, traz com EXCLUSIVIDADE, uma entrevista com a atriz e escritora Claudia Alencar.

Claudia Alencar imortalizou personagens na TV como a inesquecível Ephifania da novela “Porto dos Milagres (2001)”; Laura da novela “Tieta (1989/90)”; Patativa, uma das amantes de Tabaco (Osmar Prado) em “Roda de Fogo (1986/87)”; Teresa Avelar em “Prova de Amor (2005)” da Record, entre outras personagens admiradas pelo público e pela critica. Foram mais de trinta novelas, alguns filmes e peças teatrais, além de livros com sua autoria.

Claudia Alencar tem uma carreira completa e versátil, comparado a um talento nato, além de uma notável e indispensável vivencia histórica. Seria impossível deixarmos de nos enveredar por outras perguntas sobre a vida e carreira desta artista.

Convido a todos, para embarcar no universo de Claudia Alencar!


MUNDO NOVELAS: Você foi uma das pessoas que aderiu movimentos contra a ditadura militar. Filiou-se à Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização de esquerda, realizando peças teatrais contra a censura e denunciando as torturas feitas no regime militar. Baseado neste aspecto, em relação à classificação Indicativa da TV, você acha que seja uma censura mascarada? Que expectativas positivas e negativas você a classifica?

CLAUDIA ALENCAR: Eu sou a favor da liberdade de pensamento. Sou a favor da educação real do povo brasileiro. Quem deve saber o que seus filhos veem na Televisão são os pais, se os filhos forem crianças, mas... os pais não estão em casa, e a maioria do nosso povo não tem informação, boa escolaridade e por isso não sabe como orientar seus próprios filhos devidamente. Sob esse prisma acho que deva haver uma classificação etária, para os programas de televisão. À nossa população ainda não foi dada a oportunidade da alfabetização, nem conscientização devida, requisitos essenciais para se ter a liberdade que tanto necessitamos.



MUNDO NOVELAS: Você passou a ocupar a cena brasileira em 1975 com Antunes Filho, num Teleteatro da TV Cultura. Entre os espetáculos que Antunes Filho criou, estão Macunaíma, da obra de Mário de Andrade, que percorreu vinte países e Trono de Sangue, baseada na obra Macbeth de William Shakespeare. Como foi viver esta experiência de Teleteatro? De alguma forma isto contribuiu para aumentar sua paixão pelos palcos?

CLAUDIA ALENCAR: Houve uma sincronicidade enorme com Antunes. Naquela época nenhuma atriz possuía curso universitário, nem mestrado e isso o instigou: me deu a protagonista, para atuar ao lado de Antonio Fagundes que já era um ator consagrado com seu “Castro Alves” no Teatro.. Mas, nesse momento, eu era mais acadêmica que atriz...mesmo assim ele apostou na minha gana e vontade. O que me enfeitiçou, para voar de vez, para os palcos foi, antes, quando adolescente vendo os espetáculos do Teatro de Arena “Arena canta Zumbi” e do Zé Celso “Galileu Galilei” e “Selva na Cidade” . Extasiada fui raptada pelo mundo mágico e transformador da arte teatral. Se não tinha mudado o mundo pela revolução o mudaria pela Arte. Sempre gostei dos sonhos... e é dessa matéria mesma que somos feitos, como diz Shakespeare.(risos)


MUNDO NOVELAS: Sobre seu trabalho como autora e poetiza. Você teve cinco livros publicados: dois de pesquisas teatrais e três de poesia, um deles ilustrado: Sutil Felicidade. Como é a sensação de escrever poesias ao mesmo tempo que você ocupa outras funções nas artes? Esta versatilidade é uma aliada?

CLAUDIA ALENCAR: Agora são quatro livros de poesias: “Refinamento e Loucura” lancei em dezembro na Livraria Cultura. O sufico de refinamento é AÇÃO. O de Loucura é cura: Então o conceito do livro é: A AÇÃO CURA, onde poeticamente tento desvendar a existência cotidiana e a paixão.

Escrevo e pinto, pra não enlouquecer, para me conhecer mais profundamente e assim desvendar o ser humano e sua finalidade nessa trajetória. É uma necessidade intima que exerço desde os 12 anos sistematicamente. Ajuda a entender mais a mim e as personagens. Tenho uma reflexão vertical e tento fazer “com que a mascara fale” e não meu ego- no caso das personagens - e tento desvendar meu Eu.



MUNDO NOVELAS: Ao longo da carreira você recebeu vários prêmios por suas atuações na televisão, por exemplo, o Premio Qualidade, por sua atuação na novela Esplendor (2000). No teatro mereceu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Praticamente você não parou desde que começou na TV Tupi atuando em novelas. Seja na Globo, Band ou Record, sempre vemos a Claudia Alencar no ar. Ao mesmo tempo sabemos que outras grandes atrizes não aparecem com certa frequência na TV. Como anda o mercado artístico na TV em relação a profissionais veteranas?

CLAUDIA ALENCAR: Acabei de ganhar no Festival de Cinema de Petrópolis premio de melhor atriz protagonista por “Requiém de Laura Martim” e o Premio do Festival de Cinema de Maringa – Cunha de Aço – por minha contribuição à Cultua Brasileira.

Para as atrizes veteranas o mercado se estreita cada vez mais, em qualquer veículo. Há momentos em que me pergunto: - Como cheguei até aqui só sendo atriz? Uma benção. Pois a dignidade e a ética são minhas Rainhas.

Eu sempre fui atrás do que almejava. Tanto em teatro como em Televisão e cinema. Oferecia meu trabalho, imprimi inúmeros currículos (risos), e foi de toc toc em portas, como a tradição da minha família artística milenar sempre fez, que consegui meus papeis... pequenos por vezes , mas que se agigantavam com minha garra, vontade de vive-los e olhar atento dos autores à minha arte.

Ser atriz depois dos cinquenta anos é uma das maiores provas de resistência, tenacidade, persistência que qualquer ser artístico no planeta pode ter.


MUNDO NOVELAS: Sua estreia na Globo foi em 1984, na minissérie “Padre Cícero”. Depois disso, você passou um bom tempo na emissora dos Marinhos até chegar na Record. Por algum tempo a Globo foi a única emissora que produzia novelas. Com a retomada da teledramaturgia da Record, muitos atores ditos “globais”, migraram para a nova emissora. É muito mais fácil deixar a Globo depois de ter passado experiências em outras emissoras como você ou não? Você acha que ainda existe algum tipo de resistência de alguns atores, em deixar a Globo?

CLAUDIA ALENCAR: Nunca houve no Brasil um momento tão profícuo quanto o de agora, quando duas, três emissoras optam pela dramaturgia. Antes uma emissora morria, outra nascia e éramos quase escravos de um só senhor. Hoje o mercado mais aberto, oferecendo melhor remuneração abre as portas para a arte e tira o ator da sua condição de miserável pedinte. Podemos experimentar mais já que há mais concorrência. Não há resistência. Há bons contratos e bons papeis. Saravá! Como dizia nosso Vinicius de Moraes!



MUNDO NOVELAS: A Band já produziu grandes perolas para a TV brasileira em relação a teledramaturgia. O início da década de 1980, podemos classificar como o período de glória, neste gênero, para a emissora paulista. Novelas como “Os Imigrantes” balançou a audiência da novela das seis da Globo, tornando a Band uma forte concorrente na época; entre outras grandes produções. Na Band, além de Os Imigrantes, você atuou em Um Homem Muito Especial (1980), Dona Santa, Campeão (1982) e Sabor de Mel (1983). De repente, a Band parou de investir em teledramaturgia. Anos mais tarde houve novas tentativas sem muito êxito. Na sua visão, o que faltou para permanecer as produções de novelas na Band; levando em conta os sucessos alcançados através de algumas novelas?

CLAUDIA ALENCAR: Fica o mistério , para ti e para mim. Falta de vontade dos donos da emissora, talvez querendo apostar no jornalismo e no esporte... Realmente não sei... São Paulo ficou sendo mais um polo teatral e Rio de Janeiro outro polo televisivo e cinematográfico. Como ocorre em NY e Los Angeles...


MUNDO NOVELAS: Aproveitando a ocasião, você estava no elenco da novela “Renuncia”, inspirada em psicografias de Chico Xavier. Foram exibidos apenas 12 capítulos da novela, entre 30 de agosto e 12 de setembro de 1982. Sem dá explicações a Band simplesmente a tirou do ar. Depois a emissora justificou a baixa audiência, inflação do país daquele ano e o horário político que comprometeria ainda mais a audiência da novela. Hoje em dia este acontecimento é mais um fato histórico. O que você achou de terem tirado a novela do ar na época? Como foi ter vivido esta experiência?

CLAUDIA ALENCAR: Foi um choque! Eu iria fazer minha primeira protagonista na televisão, entrando no segundo mês da novela. Geraldo Vietri e todos nós soubemos na hora e não nos deram nenhuma explicação além dessas que você mencionou. A equipe não foi convocada, nenhuma reunião convocada e todos foram descartados, simplesmente. Com certeza a baixa audiência deve ter sido o fator fundamental, mas faltou tato com os profissionais envolvidos.


MUNDO NOVELAS: Você tem grandes e inesquecíveis personagens na TV como a Patativa da novela “Roda de Fogo”, uma das três mulheres de Tabaco (Osmar Prado); a Laura de “Tieta”, casada com o comandante Dário (Flávio Galvão) e que no final foi descoberto que era a misteriosa mulher de branco; a Perla Menescau em “Fera Ferida”; Laura Bernardes em “Esplendor” e mais recente a super mãe de surfistas chamada Teresa Avelar em “Prova de Amor” já na Record. A grande maioria, sempre mulheres fortes, determinas, corajosas. O que você aprendeu com estas personagens que citei? Qual delas deixou a mais forte mensagem para o público?

CLAUDIA ALENCAR: E ainda tem a minha querida Ephifania em Porto dos Milagres! (risos)

Minhas personagens me ensinarem demais. Patativa me mostrou a compaixão pelos homens. Laura a liberdade de amar sem posse. Perla a sensualidade escancarada e a fragilidade de uma mulher sozinha. Laura a companheira, a esposa, a parceira fiel e leal de seu marido. Ephifania a revolucionaria que venceu a corrupção. Realizei com ela o que gostaria de ter feito na vida real!

Não sei qual deixou a maior mensagem para o publico... Ainda hoje me falam da Patativa! Da Perla! Da Dona Laura! Usam o apelido que criei para o comandante “meu zamô”, pra seus maridos. Ephinania e sua força! Mas sei que fui feliz com todas elas. Uma felicidade indizível. Um amor que dei a cada umas das 33 mulheres vividas na TV, que me alimentou e alimenta até agora.Obrigada meninas!



MUNDO NOVELAS: A personagem Patativa, como citei, era uma das três amantes de Tabaco (Osmar Prado). As outras mulheres eram Bel (Inês Galvão) e Marlene (Carla Daniel) devidamente enganadas como a Patativa. Tabaco era o motorista de Renato Villar (Tarcísio Meira) e não tinha onde cair morto, mais era cheio de amantes. Este tema: homem com três mulheres está de volta à teledramaturgia, só que com outra roupagem através de “Avenida Brasil”. Dessa vez é o empresário bem sucedido Cadinho (Alexandre Borges) que tem três mulheres: as socialites Verônica (Debora Bloch), Noêmia (Camila Morgado) e Alexia (Carolina Ferraz). Como é interpretar uma personagem enganada pelo amante? Como era a reação do publico na época de Roda de Fogo em 1986?

CLAUDIA ALENCAR: Interessante é que Tabaco era um “duro” e Cadinho compra suas mulheres.Talvez isso revele um pouco a modificação da relação amorosa nessas décadas. De 1986 até hoje. As mulheres do Tabaco amavam o homem e a relação econômica não era posta em questão já que cada uma era auto suficiente economicamente. As mulheres de Cadinho são sustentadas por ele. Não trabalham e o amor está meio que amarrotado com o dinheiro.

Hoje em dia a mulher é mais independente financeiramente, mas não é retratada assim. É retratada como oportunista e o amor, esse sentimento que deveria comandar o mundo não é tão presente.

O publico se identificou de imediato na época. Tanto que alçamos a categoria de protagonistas na novela, também! Fomos pagina do segundo caderno do Globo e sucesso nacional. As mulheres e os homens viviam aquela situação e por isso a identificação. Ainda vivem, mas entrou o dinheiro em questão e a mulher é colocada mais como uma apaixonada pelo dinheiro do que pelo marido.

Patativa amava seu Tabaco com toda sua força, sentimento, sensualidade e compaixão. Belo exemplo!



MUNDO NOVELAS: Tieta é mais um clássico de Jorge Amado, adaptado por Aguinaldo Silva, fenômeno de audiência na TV brasileira. Sua personagem Laura era bem polemica. Casada com o comandante Dário (Flávio Galvão), aparentemente um casal apaixonado mais que abriu as portas para uma terceira relação com Silvana (Claudia Magno). Ainda por cima, no final, descobria que Laura era a famosa mulher de branco, que atacava os homens de Santana do Agreste, os deixando em delírio de prazer. A mulher de branco era a lenda viva da novela. A personagem foi um dos grandes mistérios da trama. Como era a expectativa em relação a identidade da misteriosa mulher de branco? Você sabia desde o começo que seria a mulher de branco?

CLAUDIA ALENCAR: O final da novela foi muito ousado. Eu e Claudia Magno terminávamos grávidas do mesmo homem e felizes os três nas dunas de Natal! Foi muita ousadia do nosso grande Aguinaldo Silva!

Ninguém sabia quem era a mulher de branco. Algumas personagens davam dicas de que poderiam ser... sempre saiam as escondidas à noite, mentiam, para onde iam, um mistério . Essas atrizes e eu gravamos a mesma cena da” revelação da mulher de branco”, para sermos escolhidas na hora, para ir ao ar no mesmo dia afim de que não vazasse a informação.Coube a mim encarnar a Mulher de Branco e até hoje não sei o por quê. Obrigada Dona Laura!


MUNDO NOVELAS: Qual a mensagem que você deixa para os que desejam atuar?

CLAUDIA ALENCAR: Estudar, estudar, estudar. Treinar, treinar, treinar. Viajar, ver teatro, cinema, ler,ler, ler, escrever,trocar ideias,formar grupos de teatro, filmar, criar textos e rezar!


Uma Rapidinha: Responda com uma palavra:
1 Fé? Fundamental. Mas as vezes vem e vai.
2 Filhos? Razão de viver.
3 Amor? Desafio (risos)
4 Inveja? Admiração! Inveja nunca.
5 Sucesso? Água de cachoeira jorrando em dia de sol.
6 Viagem? Fundamental. Sair da toca, mudar de cidade, de pais melhor ainda!
7 Amizade? A da virtú, segundo Aristóteles. A amizade útil deve-se deixar claro.
8 Livro? “A Historia Intima da Humanidade” de Theodore Zeldin, um dos cem maiores escritores do nosso tempo. Imperdível.
9 Novela? Dancing Days/ Fera Ferida.




Agradecimento:
Gilberto Zangrande
(Ator e Produtor)


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